07/11/2014 -- 00h00
‘Direita cresce por causa da decepção com o PT’
Para ex-presidenciável do PSOL, para que não haja "retrocesso", desafio é construir uma alternativa viável na esquerda
Luciana Genro: "Somos militantes em tempo integral, não aparecemos só para pedir voto"
Curitiba - Em passagem por Curitiba para palestras em universidades, a advogada e professora Luciana Genro, que disputou as eleições presidenciais pelo PSOL, disse, em visita ontem à sucursal da Folha de Londrina e do Portal Bonde, que a postura do partido de não recomendar o voto a Aécio Neves (PSDB) no segundo turno pode ter ajudado a definir o resultado da eleição. Para a ex-candidata, como o partido não declarou apoio a Dilma Rousseff (PT), mas enfatizou que a eleição do PSDB representaria retrocesso na visão da legenda, o PSOL não ajudou a eleger Dilma, mas ajudou a derrotar o Aécio. Luciana Genro disse que o partido fará oposição ao governo federal no Congresso, cobrando o discurso à esquerda feito por Dilma na campanha eleitoral e atribuiu o crescimento de candidatos de direita à decepção da população com os governos do PT. Confira a íntegra da entrevista:
FOLHA - A posição do PSOL no segundo turno, quando a senhora declara não apoiar nenhum dos dois, mas recomenda nenhum voto em Aécio, abrindo possibilidade para que alguns nomes do partido até declarassem o voto na Dilma, foi muito criticada no meio político. Foi a posição correta? A que a senhora atribui essas críticas?
Luciana - É provável que quem criticou essa posição foi porque votou no Aécio. De fato, nossa posição foi muito contundente contra o Aécio. Mas nós não nos alinhamos ao PT ou à Dilma. Não pedimos voto para a Dilma, apenas abrimos a possibilidade para que quem quisesse votar nela, pudesse fazê-lo, porque tínhamos a convicção que o PSDB representaria o retrocesso. Mas não que o PT mantido no poder representa algum avanço. Ao contrário, é na esteira de uma esquerda que abandonou suas bandeiras que a direita acaba se fortalecendo. Acho que nossa postura foi equilibrada e que a maioria de nossos eleitores ficou satisfeita. É possível que tenha tido um setor que não tenha gostado porque queria, com um apoio ao Aécio, castigar o PT pela decepção que causou a seus eleitores, mas não cabe ao PSOL, para isso, apoiar uma candidatura que significa retrocesso. Nosso castigo ao PT vai vir agora, com a oposição que vamos fazer e a mobilização para cobrar as mudanças prometidas.
E a senhora, que número apertou na urna eletrônica no segundo turno?
Se não revelei até antes, não vai ser agora.
E como o eleitor do PSOL votou?
Acho que se dividiu entre o voto nulo e o voto na Dilma, mas um voto na Dilma de nariz tapado, diante da ameaça da volta do PSDB.
Pelo resultado acirrado entre Dilma e Aécio, a senhora acredita que essa postura pode ter ajudado a decidir a eleição?
É possível que sim. O PSOL ajudou a derrotar o Aécio. Não diria que ajudou a Dilma a ganhar, porque, enquanto partido, não pedimos voto para Dilma, algumas figuras públicas sim, mas o partido não. E, agora, vamos fazer a cobrança muito dura. Fala-se em terceiro turno das eleições, com impeachment, revisão da votação, mas o terceiro turno vai acontecer na cobrança, porque a Dilma se elegeu com um discurso de esquerda, uma esquerda sazonal, que só dura o período das eleições, depois de passar um mandato inteiro beneficiando os bancos e, assim que acaba o segundo turno, acabou, ao abrir mão, por exemplo da ideia do plebiscito para a reforma política, mas nós vamos cobrar. Estaremos nas ruas, com essa pressão que conseguiremos avanço.
Ao mesmo tempo que a presidente foi eleita com discurso de esquerda, já fez o discurso do diálogo e terá de negociar com a direita para ter governabilidade. Qual o tamanho desse dilema e, ainda, ao também fazer oposição ao governo do PT, o PSOL não estará, algumas vezes, mais próximo da direita?
Geralmente, quando a direita está contra o governo, nós estamos a favor. Foi o que aconteceu na votação do decreto dos conselhos, por exemplo. Mas isso existe sim, eventualmente, é usado. Tem petistas dizendo que o PSOL é linha auxiliar do PSDB e tucanos, na campanha, falando que nós somos linha auxiliar ao PT. E respondo da mesma forma para ambos, "uma ova", nós somos independentes. E justamente para derrotar a direita, é preciso construir uma esquerda coerente. A decepção das pessoas com o PT é que está gerando o crescimento da direita. As pessoas estão buscando uma alternativa e, ao não encontrar uma alternativa viável na esquerda, acabam votando no PSDB, mesmo sem se dar conta de que estão fazendo uma opção de retrocesso. Então, a melhor forma de derrotar o PSDB não é ajudando o PT. É o PSOL se construir de forma independente, com força política para se apresentar como uma alternativa para governar o Brasil.
Elegemos neste ano um dos Congressos mais conservadores da história, com nomes como Marcos Feliciano e Jair Bolsonaro fazendo votações muito expressivas. Ao mesmo tempo, nomes como o do Jean Wyllys e o Marcelo Freixo aumentaram bastante suas votações. Essa discussão sobre direitos humanos está polarizando?
Está, porque estamos conquistando avanços neste terreno. Há mais consciência sobre os direitos LGBTs, por exemplo. O fato de termos levado esse assunto ao debate presidencial gerou um debate político, uma polarização. E é necessária, porque não vamos combater a homofobia sem botar as cartas na mesa, sem discutir o assunto. E ao se discutir o assunto, claro que vai aparecer pessoas tentando impedir que os avanços aconteçam. Mas as eleições são uma expressão distorcida da realidade, porque esses candidatos têm muito dinheiro e conseguem se eleger, já os nossos não têm dinheiro, não têm estrutura. Tem muito mais candidato com visão progressista que reacionários, mas os reacionários conseguem se eleger. Então, acabar com a influência do poder econômico nas eleições é fundamental. Enquanto isso não acontece, temos que trabalhar a pressão externa.
A direita na rua, subindo em carro de som e discursando para multidões, te assusta?
Não me assusta. É sempre preocupante ver faixas pedindo a ditadura militar. Mas não creio que as pessoas que estavam nesta mobilização pensavam assim. É muito minoritário, temos que combater e lutar para abrir as caixas pretas da ditadura, rever a lei da anistia. Mas esse terreno da mobilização é muito mais favorável para nós. A direita não tem esse poder de mobilização que nós temos. Quando eles tiverem, um dia, vai me preocupar. Então, se o embate se der na rua, tenho plena convicção de que vamos vencer, tempos muito mais condições de mobilizar o povo e muito apoio para as causas que defendemos.
Trazendo a discussão para o cenário do Paraná. O que é mais perigoso, um Legislativo dividido, com uma oposição ferrenha e uma base aliada rachada que promete dar trabalho e negociar cada uma das propostas, ou um parlamento com mais de 80% de deputados apoiando o Executivo, dando, praticamente, uma carta branca ao governo?
As duas coisas são ruins. E no caso do PSOL, aqui no Paraná, não estamos no parlamento, então nossa estratégia de construção é nas mobilizações, nos movimentos sociais. E aí que vamos buscar influenciar tanto o parlamento quanto o governo. Sempre é possível obter avanços se houver essa pressão externa, por isso que somos um partido que não atua só no período eleitoral, somos militantes em tempo integral, não aparecemos só para pedir voto. Vamos estar nesses movimentos cobrando moradia, atendimento de saúde, melhorias nas universidades e nas escolas públicas.
E por que aqui no Paraná o PSOL ainda não emplacou sequer um vereador?
Cada Estado tem suas peculiaridades e, aqui no Paraná, o PSOL é composto majoritariamente por jovens, então é difícil, mas a juventude está se politizando e as votações do PSOL crescendo. As eleições ainda são muito desiguais, por dinheiro, estruturas, cobertura da mídia, mas o partido ainda está se firmando e vamos eleger vereadores na próxima eleição.
FOLHA - A posição do PSOL no segundo turno, quando a senhora declara não apoiar nenhum dos dois, mas recomenda nenhum voto em Aécio, abrindo possibilidade para que alguns nomes do partido até declarassem o voto na Dilma, foi muito criticada no meio político. Foi a posição correta? A que a senhora atribui essas críticas?
Luciana - É provável que quem criticou essa posição foi porque votou no Aécio. De fato, nossa posição foi muito contundente contra o Aécio. Mas nós não nos alinhamos ao PT ou à Dilma. Não pedimos voto para a Dilma, apenas abrimos a possibilidade para que quem quisesse votar nela, pudesse fazê-lo, porque tínhamos a convicção que o PSDB representaria o retrocesso. Mas não que o PT mantido no poder representa algum avanço. Ao contrário, é na esteira de uma esquerda que abandonou suas bandeiras que a direita acaba se fortalecendo. Acho que nossa postura foi equilibrada e que a maioria de nossos eleitores ficou satisfeita. É possível que tenha tido um setor que não tenha gostado porque queria, com um apoio ao Aécio, castigar o PT pela decepção que causou a seus eleitores, mas não cabe ao PSOL, para isso, apoiar uma candidatura que significa retrocesso. Nosso castigo ao PT vai vir agora, com a oposição que vamos fazer e a mobilização para cobrar as mudanças prometidas.
E a senhora, que número apertou na urna eletrônica no segundo turno?
Se não revelei até antes, não vai ser agora.
E como o eleitor do PSOL votou?
Acho que se dividiu entre o voto nulo e o voto na Dilma, mas um voto na Dilma de nariz tapado, diante da ameaça da volta do PSDB.
Pelo resultado acirrado entre Dilma e Aécio, a senhora acredita que essa postura pode ter ajudado a decidir a eleição?
É possível que sim. O PSOL ajudou a derrotar o Aécio. Não diria que ajudou a Dilma a ganhar, porque, enquanto partido, não pedimos voto para Dilma, algumas figuras públicas sim, mas o partido não. E, agora, vamos fazer a cobrança muito dura. Fala-se em terceiro turno das eleições, com impeachment, revisão da votação, mas o terceiro turno vai acontecer na cobrança, porque a Dilma se elegeu com um discurso de esquerda, uma esquerda sazonal, que só dura o período das eleições, depois de passar um mandato inteiro beneficiando os bancos e, assim que acaba o segundo turno, acabou, ao abrir mão, por exemplo da ideia do plebiscito para a reforma política, mas nós vamos cobrar. Estaremos nas ruas, com essa pressão que conseguiremos avanço.
Ao mesmo tempo que a presidente foi eleita com discurso de esquerda, já fez o discurso do diálogo e terá de negociar com a direita para ter governabilidade. Qual o tamanho desse dilema e, ainda, ao também fazer oposição ao governo do PT, o PSOL não estará, algumas vezes, mais próximo da direita?
Geralmente, quando a direita está contra o governo, nós estamos a favor. Foi o que aconteceu na votação do decreto dos conselhos, por exemplo. Mas isso existe sim, eventualmente, é usado. Tem petistas dizendo que o PSOL é linha auxiliar do PSDB e tucanos, na campanha, falando que nós somos linha auxiliar ao PT. E respondo da mesma forma para ambos, "uma ova", nós somos independentes. E justamente para derrotar a direita, é preciso construir uma esquerda coerente. A decepção das pessoas com o PT é que está gerando o crescimento da direita. As pessoas estão buscando uma alternativa e, ao não encontrar uma alternativa viável na esquerda, acabam votando no PSDB, mesmo sem se dar conta de que estão fazendo uma opção de retrocesso. Então, a melhor forma de derrotar o PSDB não é ajudando o PT. É o PSOL se construir de forma independente, com força política para se apresentar como uma alternativa para governar o Brasil.
Elegemos neste ano um dos Congressos mais conservadores da história, com nomes como Marcos Feliciano e Jair Bolsonaro fazendo votações muito expressivas. Ao mesmo tempo, nomes como o do Jean Wyllys e o Marcelo Freixo aumentaram bastante suas votações. Essa discussão sobre direitos humanos está polarizando?
Está, porque estamos conquistando avanços neste terreno. Há mais consciência sobre os direitos LGBTs, por exemplo. O fato de termos levado esse assunto ao debate presidencial gerou um debate político, uma polarização. E é necessária, porque não vamos combater a homofobia sem botar as cartas na mesa, sem discutir o assunto. E ao se discutir o assunto, claro que vai aparecer pessoas tentando impedir que os avanços aconteçam. Mas as eleições são uma expressão distorcida da realidade, porque esses candidatos têm muito dinheiro e conseguem se eleger, já os nossos não têm dinheiro, não têm estrutura. Tem muito mais candidato com visão progressista que reacionários, mas os reacionários conseguem se eleger. Então, acabar com a influência do poder econômico nas eleições é fundamental. Enquanto isso não acontece, temos que trabalhar a pressão externa.
A direita na rua, subindo em carro de som e discursando para multidões, te assusta?
Não me assusta. É sempre preocupante ver faixas pedindo a ditadura militar. Mas não creio que as pessoas que estavam nesta mobilização pensavam assim. É muito minoritário, temos que combater e lutar para abrir as caixas pretas da ditadura, rever a lei da anistia. Mas esse terreno da mobilização é muito mais favorável para nós. A direita não tem esse poder de mobilização que nós temos. Quando eles tiverem, um dia, vai me preocupar. Então, se o embate se der na rua, tenho plena convicção de que vamos vencer, tempos muito mais condições de mobilizar o povo e muito apoio para as causas que defendemos.
Trazendo a discussão para o cenário do Paraná. O que é mais perigoso, um Legislativo dividido, com uma oposição ferrenha e uma base aliada rachada que promete dar trabalho e negociar cada uma das propostas, ou um parlamento com mais de 80% de deputados apoiando o Executivo, dando, praticamente, uma carta branca ao governo?
As duas coisas são ruins. E no caso do PSOL, aqui no Paraná, não estamos no parlamento, então nossa estratégia de construção é nas mobilizações, nos movimentos sociais. E aí que vamos buscar influenciar tanto o parlamento quanto o governo. Sempre é possível obter avanços se houver essa pressão externa, por isso que somos um partido que não atua só no período eleitoral, somos militantes em tempo integral, não aparecemos só para pedir voto. Vamos estar nesses movimentos cobrando moradia, atendimento de saúde, melhorias nas universidades e nas escolas públicas.
E por que aqui no Paraná o PSOL ainda não emplacou sequer um vereador?
Cada Estado tem suas peculiaridades e, aqui no Paraná, o PSOL é composto majoritariamente por jovens, então é difícil, mas a juventude está se politizando e as votações do PSOL crescendo. As eleições ainda são muito desiguais, por dinheiro, estruturas, cobertura da mídia, mas o partido ainda está se firmando e vamos eleger vereadores na próxima eleição.
Roger Pereira - Equipe Bonde
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