100 anos do 8 de março...
Há o que comemorar?
Em 2010, à luz dos novos tempos e de novas relações na sociedade, o que mais ouvimos e até nos convencemos por vezes, é que as mulheres conquistaram muitos direitos através de suas reivindicações e lutas históricas e que nos dias atuais “essa coisa de opressão tá superada” e a mulher moderna atingiu seu lugar no mercado de trabalho, se tornando independente, emancipada... mas até onde essas conquistas se limitam apenas à aparência das coisas? Ou melhor, essas conquistas são para todas as mulheres?
No mercado de trabalho, apesar de haver uma crescente inserção da mulher nos postos de trabalho, esta é acompanhada por menores salários em relação ao homem (correspondendo a até 65% do salário médio do homem* e quando se compara com as mulheres negras, a proporção se mostra ainda menor) em conjunto com a ocupação de cargos mais precarizados. Além disso, tal inserção no mercado de trabalho não foi acompanhada pela divisão do trabalho doméstico (cuidar da casa e dos filhos), mantendo-se assim a dupla jornada imposta sobre as mulheres sob o ideal do inquestionável “dever natural” de toda mulher para com o lar. Sim, pode ser que algumas mulheres se libertem do peso do trabalho doméstico, porém, isto se dá à custa de outra mulher exercendo suas funções!
Com o desenvolvimento do capitalismo, desenvolvem-se também as contradições deste sistema, em que as “minorias”, como mulheres, negros e homossexuais, são cada vez mais deixados à margem de políticas públicas e esquecidos de seus direitos. E em tempos de crise, como o que vivemos, os mesmos terminam por serem os mais afetados pela exclusão social e exploração capitalista. No Brasil, o desemprego aumentou, porém, as mulheres são maiorias nas filas de desempregados (o nível de ocupação das mulheres caiu 3,1% em comparação com os valores para os homens de 1,6%**). A maior inserção feminina em postos de trabalho mais precários, flexíveis e instáveis (destaque para o setor terciário ou de serviços), com remuneração menor do que a do homem, ainda que no mesmo ramo de atividade, também tende a agravar-se com a crise.
Por isso, afirmamos a necessidade de que a luta ultrapasse o caráter feminista e mais do que a busca pela igualdade de gêneros, enfrente o sistema que se beneficia das relações de opressão e as potencializa contra as mulheres.
Então, o que comemorar no Dia Internacional da Mulher? Cem anos se passaram desde que o marcante 8 de março foi reconhecido internacionalmente como o dia de luta das mulheres e ainda acompanhamos hoje inúmeros casos de violência, assédio moral e criminalização contra a mulher, por exemplo quando impedida de ter direito ao seu próprio corpo, correndo o risco de ser presa caso realize um aborto. Resultado disso são 200 mortes por ano no Brasil, resultantes de práticas inseguras de aborto... até quando continuaremos fechando os olhos para essas mortes em uma defesa abstrata da vida?
Atualmente, o governo Lula recuou no ponto referente ao aborto do III Plano Nacional de Direitos Humanos, e sob pressão da Igreja Católica retirou do documento a garantia de apoio do Estado e a descriminalização do aborto para as mulheres brasileiras, ignorando o que foi resultado de amplos debates da sociedade. Além disso, a CPI do aborto servirá para perseguir e criminalizar mais ainda as mulheres. Esses acontecimentos demonstram que só a luta feminista é capaz de travar uma correlação de forças que faça com que a realidade da mulher brasileira mude. Por isso, afirmamos:
100 anos não é para comemoração! Mas sim para a retomada da luta feminista pela libertação da mulher!
Convocamos a todos e todas para a organização de um ato público em Londrina, em defesa dos direitos da mulher no dia 8 de março!
A reunião para a construção e organização do ato será dia 20 de fevereiro, às 9h na Casa do Teatro do Oprimido, Rua Benjamim Constant, n. 1337.
Núcleo de Mulheres do PSOL-Londrina.
*Fonte: MTE Ministério do Trabalho e do Emprego/CAGED Cadastro Geral de Empregados e Desempregados. Dados de 2008 - 2009.
** Fonte: Pesquisa mensal de emprego/IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – Set. 2008 a Abril 2009.
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