Todos com Bensaïd (1946 - 2010): contra o burocratismo!
Todos nos entristecemos com a morte de Daniel Bensaïd. Sempre é muito impressionante ler Bensaïd pelo número de debates com que ele tinha um conhecimento profundo além de estar ativamente em criativas discussões com os teóricos atuais vivos da esquerda como Alain Badiou, Slavoj Zizek, Judith Butler, Michael Löwy, Ernesto Laclau, David Harvey, Fredric Jameson, Alex Callinicos, John Holloway, Toni Negri, Perry Anderson, Zigmunt Bauman, etc. Além deles também debate com Foucault, Derrida, Bordieu e a nova escória da filosofia francesa como Bernard Levy e André Glucksman. Sem dúvidas, Bensaid foi um homem voltado para a ação de transformação em seu tempo.
Retomo aqui um debate em que ele estava inserido e que, sem dúvida, é importantíssimo para abrir brechas em nossa era pós-política do “fim da história” da democracia-liberal: o debate sobre a natureza do stalinismo.
Para Bensaïd temos como desafio uma discussão aprofundada sobre a noção de totalitarismo em geral e o “totalitarismo burocrático” exposto na máxima de Trotsky “A sociedade sou eu!”.
“pensar o stalinismo, não como conseqüência inevitável de Outubro, mas como uma contra-revoluçã o burocrática enraizada em contradições sociais colossais, permite dirigir o caráter fatalista da história. Contra-reformadores liberais e stalinistas arrependidos concordam em ver na reação stalinista o desenvolvimento genético natural da revolução bolchevique. Também chegam a essa conclusão os “renovadores” pós-stalinistas, quando pensam o stalinismo como “desvio teórico” e não como uma terrível reação social”.
Penso que Bensaïd tem uma extrema preocupação com o “movimento real” entre Lênin e Stálin. Pensar que o stalinismo seria um “desvio teórico” ou uma “traição” lembraria “a procura de um pecado original. Ela leva não só a uma liquidação do “leninismo”, mas também, em grande medida, a uma renúnica ao marxismo crítico, ou mesmo à herança do Iluminismo: da culpa de Lênin logo se remontou à “culpa de Marx” e mesmo à “culpa de Rousseau”.
A preocupação com esse processo histórico tem um caráter prático já que o esclarecimento sobre o “desastre obscuro” do stalinismo, como Badiou e Zizek chamam, “permitiria evitar que um uso vulgar e extremamente elástico servisse para fazer da oposição entre democracia puta e totalitarismo indefinido a unida linha divisória legítima de nosso tempo”. Contra a chantagem fukuyamista – democracia ou totalitarismo? – temos que repensar profundamente “qual democracia?” e “qual totalitarismo?” para não cairmos na democracia-liberal como limite da história. Penso que Bensaïd nos brinda com um Axioma Universal para a esquerda hoje: “a democracia socialista não é solúvel no estatismo burocrático”. Precisamos urgentemente verificar esse axioma na práxis política e social.
Para quem tiver interesse em conhecer esse formidável militante recomendo a obra dele. No Brasil temos traduzidos poucos livros de sua obra com mais de 30 títulos que vão de temas desde 1968, Walter Benjamin, o surrealismo, os trotskismos, a privatização do mundo, etc:
Marx, o intempestivo: grandezas e misérias de uma aventura crítica. Civilização Brasileira, 1999.
Marxismo, modernidade e utopia (com Michael Löwy). São Paulo, Xamã, 2000.
Os irredutíveis: Teoremas da resistência para o tempo presente. Boitempo, 2008.
Fernando Marcelino
13/01/2010
Todos nos entristecemos com a morte de Daniel Bensaïd. Sempre é muito impressionante ler Bensaïd pelo número de debates com que ele tinha um conhecimento profundo além de estar ativamente em criativas discussões com os teóricos atuais vivos da esquerda como Alain Badiou, Slavoj Zizek, Judith Butler, Michael Löwy, Ernesto Laclau, David Harvey, Fredric Jameson, Alex Callinicos, John Holloway, Toni Negri, Perry Anderson, Zigmunt Bauman, etc. Além deles também debate com Foucault, Derrida, Bordieu e a nova escória da filosofia francesa como Bernard Levy e André Glucksman. Sem dúvidas, Bensaid foi um homem voltado para a ação de transformação em seu tempo.
Retomo aqui um debate em que ele estava inserido e que, sem dúvida, é importantíssimo para abrir brechas em nossa era pós-política do “fim da história” da democracia-liberal: o debate sobre a natureza do stalinismo.
Para Bensaïd temos como desafio uma discussão aprofundada sobre a noção de totalitarismo em geral e o “totalitarismo burocrático” exposto na máxima de Trotsky “A sociedade sou eu!”.
“pensar o stalinismo, não como conseqüência inevitável de Outubro, mas como uma contra-revoluçã o burocrática enraizada em contradições sociais colossais, permite dirigir o caráter fatalista da história. Contra-reformadores liberais e stalinistas arrependidos concordam em ver na reação stalinista o desenvolvimento genético natural da revolução bolchevique. Também chegam a essa conclusão os “renovadores” pós-stalinistas, quando pensam o stalinismo como “desvio teórico” e não como uma terrível reação social”.
Penso que Bensaïd tem uma extrema preocupação com o “movimento real” entre Lênin e Stálin. Pensar que o stalinismo seria um “desvio teórico” ou uma “traição” lembraria “a procura de um pecado original. Ela leva não só a uma liquidação do “leninismo”, mas também, em grande medida, a uma renúnica ao marxismo crítico, ou mesmo à herança do Iluminismo: da culpa de Lênin logo se remontou à “culpa de Marx” e mesmo à “culpa de Rousseau”.
A preocupação com esse processo histórico tem um caráter prático já que o esclarecimento sobre o “desastre obscuro” do stalinismo, como Badiou e Zizek chamam, “permitiria evitar que um uso vulgar e extremamente elástico servisse para fazer da oposição entre democracia puta e totalitarismo indefinido a unida linha divisória legítima de nosso tempo”. Contra a chantagem fukuyamista – democracia ou totalitarismo? – temos que repensar profundamente “qual democracia?” e “qual totalitarismo?” para não cairmos na democracia-liberal como limite da história. Penso que Bensaïd nos brinda com um Axioma Universal para a esquerda hoje: “a democracia socialista não é solúvel no estatismo burocrático”. Precisamos urgentemente verificar esse axioma na práxis política e social.
Para quem tiver interesse em conhecer esse formidável militante recomendo a obra dele. No Brasil temos traduzidos poucos livros de sua obra com mais de 30 títulos que vão de temas desde 1968, Walter Benjamin, o surrealismo, os trotskismos, a privatização do mundo, etc:
Marx, o intempestivo: grandezas e misérias de uma aventura crítica. Civilização Brasileira, 1999.
Marxismo, modernidade e utopia (com Michael Löwy). São Paulo, Xamã, 2000.
Os irredutíveis: Teoremas da resistência para o tempo presente. Boitempo, 2008.
Fernando Marcelino
13/01/2010
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